quinta-feira, 12 de março de 2009

Elogio dos Porcos

Um agricultor coleccionava cavalos e só lhe faltava uma determinada raça.
Um dia ele descobriu que o seu vizinho tinha esse determinado cavalo e atazanou-o até conseguir comprá-lo.
Um mês depois o cavalo adoeceu, e ele chamou o veterinário:
- Bem, o seu cavalo está com uma virose, é preciso tomar este medicamento durante 3 dias, no terceiro dia eu retornarei e, caso ele não esteja melhor, será necessário sacrificá-lo.
Alí perto, o porco escutava a conversa toda...
No dia seguinte deram o medicamento e foram-se embora. O porco aproximou-se do cavalo e disse:
- Força amigo! Levanta-te daí, senão serás sacrificado!!!
No segundo dia, deram-lhe o medicamento e foram-se embora. O porco aproximou-se do cavalo e disse:
- Vamos lá amigo, levanta-te senão vais morrer!
- Vamos lá, eu ajudo-te a levantar... Upa! Um, dois, três.
No terceiro dia deram-lhe o medicamento e o veterinário disse:
- Infelizmente, vamos ter que sacrificá-lo amanhã, pois a virose pode contaminar os outros cavalos.
- Quando se foram embora, o porco aproximou-se do cavalo e disse:
- É agora ou nunca, levanta-te depressa! Coragem! Upa! Upa!
Isso, devagar! Óptimo, vamos, um, dois, três, agora mais depressa, vá...
Fantástico! Corre, corre mais! Upa! Upa! Upa!!! Tu venceste, Campeão!!!
Então, de repente o dono chegou, viu o cavalo a correr no campo e gritou:
- Milagre!!! O cavalo melhorou! Isto merece uma festa... para
comemorar 'Vamos matar o porco!!!'

* Reflexão: *

Isto acontece com frequência no ambiente de trabalho e na vida também.
Dificilmente se percebe quem é o funcionário que tem o mérito pelo sucesso, por isso saber viver sem ser reconhecido é uma arte.
Se algum dia, alguém lhe disser que o seu trabalho não é de um profissional, lembra-te: 'Amadores construíram a Arca de Noé e os profissionais, construíram o Titanic'.
'Procure ser uma pessoa de valor, em vez de uma pessoa de sucesso'.

sábado, 8 de novembro de 2008

Percepcionar sem rotular

A maior parte das pessoas só se apercebem perifericamente do mundo que as rodeia, em especial se o seu meio envolvente lhes for familiar. A voz que existe dentro das suas cabeças absorve a maior parte da sua atenção. Algumas pessoas sentem-se mais vivas quando viajam e visitam sítios desconhecidos ou países estrangeiros porque, nessas alturas, a percepção dos sentidos – a experiência – ocupa mais a sua consciência do que o pensamento. Tornam-se mais presentes. Outras até então permanecem totalmente dominadas pela voz que reside dentro das suas cabeças. As suas percepções e experiências são distorcidas por juízos de valor instantâneos. Não chegam verdadeiramente a ir a lado nenhum. É apenas o seu corpo que está a viajar, enquanto elas permanecem onde sempre estiveram: dentro das suas mentes.
Esta é a realidade da maior parte das pessoas: assim que algo é percepcionado, é rotulado, interpretado e comparado com outra coisa qualquer pelo eu ilusório, o ego, que gosta ou desgosta, ou acha bom ou mau. Estas pessoas estão presas às formas de pensamento, à consciência do objecto.
Não podemos despertar espiritualmente enquanto não deixarmos de rotular tudo de modo compulsivo e inconsciente ou, pelo menos, enquanto não tivermos consciência disso e formos capazes de observar este comportamento quando ele acontece. É através desta constante atribuição de rótulos que o ego continua a ocupar o seu lugar como a mente inconsciente. Sempre que este comportamento deixa de existir ou quando simplesmente nos tornamos conscientes dele, temos espaço interior e já não somos dominados pela mente.
Escolha um objecto que esteja perto de si – uma caneta, uma cadeira, uma chávena, uma planta – e explore-o visualmente, ou seja, olhe para ele com muito interesse, quase com curiosidade. Evite um objecto com o qual tenha uma forte ligação pessoal e que lhe lembre o passado, onde o comprou, a pessoa que lho deu, e assim por diante. Evite também um objecto que contenha algo escrito, como um livro ou uma garrafa, pois isso estimularia o pensamento. Sem esforço, descontraído mas alerta, concentre toda a sua atenção no objecto e em todos os seus pormenores. Se surgirem pensamentos, não se deixe envolver por eles. Não é nos pensamentos que você está interessado, mas no próprio acto de percepção. Consegue retirar os pensamentos da percepção? É capaz de observar sem que a voz que existe dentro da sua cabeça faça comentários, tire conclusões, estabeleça comparações ou tente perceber o que quer que seja? Alguns minutos depois, deixe o seu olhar vaguear pelo local onde se encontra, iluminando todos os objectos em que se detém com a sua atenção alerta.
Depois, oiça todos os sons que possam estar presentes. Oiça-os da mesma forma que olhou para as coisas que o rodeiam. Alguns sons podem ser naturais – o som da água, do vento, dos pássaros – e outros produzidos pelo Homem. Alguns podem ser agradáveis, outros desagradáveis. Porém, não faça a distinção entre bom e mau. Deixe cada som ser o que é, sem o interpretar. Também aqui, a atenção descontraída mas alerta é a chave do sucesso.
Quando observamos e ouvimos desta maneira, somos capazes de tomar consciência de uma sensação de calma subtil, talvez até quase imperceptível. Algumas pessoas sentem-na como um silêncio de fundo. Outras chamam-lhe paz. Quando a consciência deixa de ser totalmente absorvida pelo pensamento, parte dessa consciência permanece no seu estado original, informe e sem condicionamentos. É o espaço interior.

Eckhart Tolle
Um Novo Mundo- Despertar para a Essência da Vida

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A descoberta do espaço interior.

Segundo uma antiga história sufista, havia um rei de um território do Médio Oriente que estava permanentemente dividido entre a felicidade e o desânimo. A mínima coisa provocava nele uma enorme perturbação ou uma reacção intensa, e a sua felicidade rapidamente se transformava em decepção e desespero. A uma dada altura, o rei ficou farto de si próprio e da vida, e começou a procurar uma saída. Mandou chamar um sábio que vivia no seu reino e que tinha a reputação de ser iluminado. Quando o sábio chegou, o rei disse-lhe: «Quero ser como tu. Podes dar-me alguma coisa que traga equilíbrio, serenidade e sabedoria à minha vida? Pago-te o que tu quiseres.»
O sábio respondeu: «Talvez o possa ajudar. Mas o preço é tão elevado que todo o seu reino não seria suficiente para o pagar. Por isso, será uma dádiva para si, se a honrar.» O rei deu-lhe as suas garantias, e o sábio partiu.
Algumas semanas mais tarde, o sábio voltou e deu ao rei uma caixa ornamentada esculpida em jade. O rei abriu a caixa e encontrou um singelo anel de ouro no seu interior. O qual tinha uma inscrição. Esta dizia: Também isto irá passar. «O que quer isto dizer?», perguntou o rei. O sábio respondeu: «use sempre este anel. Aconteça o que acontecer, antes de dizer se é bom ou mau, toque no anel e leia a inscrição. Desta forma estará sempre em paz.»
Também isto irá passar. O que é que existe nestas simples palavras que as torna tão poderosas? Olhando à superfície, poderia parecer que estas palavras são susceptíveis de proporcionar algum conforto numa situação adversa, mas também podem diminuir a satisfação concedida pelas coisas boas da vida. «Não estejas demasiado feliz, porque a felicidade não dura muito.» Parece ser isto que as palavras estão a dizer, quando aplicadas a uma situação percepcionado como boa.
A importância total destas palavras torna-se evidente se as considerarmos no contexto das outras duas histórias que abordámos anteriormente. A história do Mestre zen cuja resposta era sempre «A sério?» revela o bem que deriva da não-resistência aos acontecimentos, ou seja, de sermos unos com o que acontece; a história do homem cujo comentário era invariavelmente um lacónico «Talvez» ilustra a sabedoria do não-julgamento; e a história do anel aponta para o facto de a impermanência, ao ser reconhecida, conduzir ao não-apego. A não-resistência, o não-julgamento e o não-apego constituem os três aspectos da verdadeira liberdade e da vida iluminada.
As palavras inscritas no anel não nos dizem que não devemos desfrutar das coisas boas da nossa vida, nem se destinam a dar conforto em alturas de sofrimento. Elas têm um propósito maior: tornar-nos conscientes da efemeridade de todas as situações, que se deve ao carácter transitório de todas as formas, sejam elas boas ou más. Ao tomarmos consciência da transitoriedade de todas as formas, o nosso apego a elas diminui e deixamos em certa medida de nos identificar com elas. Desapegarmo-nos não significa que não podemos usufruir das coisas boas que o mundo tem para nos oferecer. Na realidade, passamos a gozá-las mais. Quando vemos e aceitamos a transitoriedade de todas as coisas e a inevitabilidade da mudança, podemos desfrutar dos prazeres do mundo enquanto eles duram, sem que o medo da perda ou a ansiedade em relação ao futuro se apoderem de nós. Quando nos desapegamos, ficamos numa posição mais vantajosa para ver os acontecimentos que ocorrem na nossa vida, em vez de ficarmos presos a eles. Somos como um astronauta que vê o planeta Terra rodeado pela imensidão do espaço e que se apercebe de uma verdade paradoxal: a Terra é preciosa e, ao mesmo tempo, insignificante. O reconhecimento de que Também isto irá passar traz consigo o desapego e, com o desapego, outra dimensão entra na nossa vida – o espaço interior. Através do desapego, bem como do não-julgamento e da não-resistência, ganhamos acesso a essa dimensão.
Quando deixamos de nos identificar totalmente com as formas, a consciência – quem somos – é libertada do seu aprisionamento à forma. Esta libertação é o despontar do espaço interior. Chega como uma espécie de quietude, uma paz subtil que se apodera do fundo de nós mesmos, inclusive perante algo aparentemente negativo. Também isto irá passar. De repente, cria-se um espaço à volta do acontecimento. Há igualmente um espaço em redor dos altos e baixos emocionais, e até mesmo à volta da dor. E, acima de tudo, existe um espaço entre os nossos pensamentos. E desse espaço emana uma paz que não é «deste mundo», pois este mundo é a forma, e a paz é o espaço. Esta é a paz de Deus.
Agora podemos apreciar e honrar as coisas deste mundo sem lhes dar uma importância e um significado que elas não têm. Podemos participar na dança da criação e ser activos sem apego aos resultados e sem fazer exigências despropositadas ao mundo: faz-me sentir realizado, faz-me sentir feliz, faz-me sentir seguro, diz-me quem sou. O mundo não nos pode dar estas coisas e, quando deixamos de ter estas expectativas, todo o sofrimento criado por nós próprios chega ao fim. Todo este sofrimento deve-se a uma sobrevalorização da forma e a uma inconsciência da dimensão do espaço interior. Quando esta dimensão está presente na nossa vida, podemos desfrutar das coisas, das experiências e dos prazeres dos sentidos sem nos perdermos neles, sem um apego interior a eles, ou seja, sem nos viciarmos no mundo.
As palavras Também isto irá passar são indicadores da realidade. Ao apontarem para a impermanência de todas as formas, implicitamente também estão a apontar para o eterno. Apenas o que há de eterno em nós pode reconhecer a impermanência como impermanência.
Quando a dimensão do espaço é perdida, ou, melhor, quando não é reconhecida, as coisas do mundo adquirem uma importância absoluta, uma seriedade e um peso que na verdade não possuem. Quando o mundo não é visto segundo a perspectiva da ausência de forma, converte-se num sítio ameaçador e, em última análise, num sítio de desespero. O profeta do Velho Testamento deve ter sentido isto ao escrever: «Todas as coisas se afadigam, mais do que se pode dizer .»

ECKHART TOLLE
UM NOVO MUNDO – Despertar para a Essência da Vida.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Carta a Um Amigo 7

Embora tenha estado bastante ocupado, não é meu hábito ou conforme a minha maneira de proceder deixar em atraso a correspondência que vou recebendo. Assim a tua, sempre teve, e está a ter resposta dentro dos prazos que ambos consideramos aceitáveis; este modo de contagem do tempo em horas, e não em afazeres que nos dão prazer, em actividades ditas de generosidade ou mais úteis à comunidade, visto que só dando algo de nós, nos devemos sentir melhor connosco, não são bem aquilo de que mais aprecie para medir o tempo que tenho para viver; erradicar aquela ponta de egoísmo habitante, hóspede ou passageiro que por breves momentos foi nosso cúmplice; e se existe não é porque não se tenha feito o esforço necessário para o pôr de parte, esquecê-lo ao mesmo tempo, mas como humanos, errantes e até com uma certa teimosia que aparece, estes pequenos acidentes, por vezes involuntária outras vezes voluntariamente, não são tragédias mas levam-nos a afastar da Luz e escolher a Sombra. A luz quando nasce não é pertença de todos?
O Criador não distribui por Pessoas, Materiais ou Líquidos os recursos do Universo, atribuindo-lhe um dono; não criou amos nem servos; criação perfeita, que só ao Divino pertence. Ao Homem foi dado aquele modo de pensar que nos leva a criar as diferenças, barreiras ou muros tão compactos que hoje em dia mais parece uma epidemia; antes fosse, e daquelas que, muito simplesmente o barbeiro das nossas aldeias encontrasse na sua horta, as ervas com que tem curado tanta gente e tivesse o diagnóstico mais fácil e das curas mais rápidas igual a tantos males que tem curado.; repara que se há algo em que fazemos o melhor que soubermos, seja distribuir um sorriso, uma palavra ou um pouco de pão que seja em benefício dos que nos rodeiam, até a luz que nos tira da sombra parece ter mais brilho, até os passos dados são passadas feitas com maior segurança, até o dormir aquele sono que o meu avô nos dizia quando o meu irmão mais novo estava a dormir; ele está a dormir o sono dos justos; isso mesmo é sentimento que vem e nem nos apercebemos, tal é o encanto interior de que estamos possuídos; serão fantasias que vêm desde a infância? Serão modos de perceber o quanto é grandioso, ver os acontecimentos tão contraditórios, ver as diferenças de pensamento, sinal, ao mesmo tempo do respeito que ainda vai existindo, se lhe chamarmos tolerância, e sinal de que nem tudo vai assim tão mal como se ouve dizer. A crítica só terá razão de existir se for feita no sentido construtivo do criticado Olhando para os acontecimentos que se passaram nestes dias que nos mantivermos afastados, olhando para os seus efeitos à escala planetária hoje chamada globalização, decerto vimos diferenças, algumas pontuais outras nem tanto, em todos os factos dos quais fomos observadores atentos.
Gostaria de ler a tua opinião, de saber descrito por Ti, naquele teu jeito, tão perfeito e tão sadio de descreveres os acontecimentos, com uma linguagem tão enlevada e tão rica em elementos, que descreves tudo na maior das perfeições; não te invejo o saber escrever; o saber não se inveja; adquire-se; nasce connosco; mas como sabes vou fazendo o melhor que sei, e sempre vou aprendendo, cada dia que leio o que escreves, e assim não tenho remorsos desta minha ignorância, nos modos de ver o mundo que nos rodeia. A tua opinião como digo, traz-me sempre mais um esclarecimento, é mais um saber que vai contrariar aquele ponto que ignorava ou que tinha mal formulado.
Só pelos caminhos da Luz fugirás aos abismos.

Carta a Um Amigo 6

Quereria ser o cumpridor fiel do que a mim próprio me proponho, mas não tendo ou havendo metas e balizas que me definam os limites dos afazeres, vou seguindo, tal como fez o Mestre o seu ritmo da vida; ele será sempre aquele que a vontade existente no momento subir até mim; ajudar os outros que necessitados estarão mais do que eu; servir sempre os que não puderam ou não souberam ir mais longe em busca de um modo de viver que não lhes trouxesse arrependimento do caminho andado, sempre os que precisam de serem levantados, porque o cair, é da física elementar a acção natural mais próxima de nós, implica que terá de haver a acção contrária.
Quero dizer-te que me sinto muito bem com as palavras que me mandaste, as quais, sabendo do valor das mesmas e da fonte inesgotável de saber de onde provêm, me incentivaram a que o meu rumo não fosse perturbado nestes acontecimentos dos últimos dias. Há sempre acontecimentos que nos marcam mais ou menos, mediante o impacto que provocam em nós. É concerteza dentro do quadro da Amizade que, o que nos surge de outrem tem sempre um valor e uma apreciação de carácter mais intimista, mais nos enleva ao que julgamos pertencer; pois assim sem julgamento estamos a ser apreciados, pelo nosso trato, pelo nosso trabalho e sobretudo pela existência de um elo que foi consolidado ao longo dos anos em que travamos conhecimento e fomos trocando correspondência, esta tão em desuso, e ao usarmos de tal privilégio, privilégio porque poucos a usam actualmente, estamos a deixar que escrito aquilo que realmente pensamos de nós, dos nossos que por laços familiares nos pertencem, do nosso país e do planeta em geral; motivo mais que suficiente par estarmos de bem connosco.
Se a Amizade é um frasco, quero que seja do tamanho do Planeta.
Há um tempo para tudo; vamos respeitar aquele tempo.

Carta a um Amigo 5

Embora tenha que dar-te razão, ainda assim, quero dizer-te que me ficou uma dúvida que gostaria de a ver tirada em uma das tuas respostas. É claro que não vou falar-te novamente naquela conversas em que tanto tempo passa, e nem sequer demos conta desse mesmo tempo. A preocupação das horas só se manifesta se o que estivermos a falar ou a executar não for do nosso agrado. Aquele foi muito importante, um tempo que deu semente, foi um aclarar de ideias, foi uma troca de valores e uma partilha que ajudou a construir e a cimentar a nossa amizade; passamos tanto tempo sem saber da exacta dimensão do seu valor, que uma grande parte dele não o usamos da melhor maneira para que a sua utilidade nos traga algo de bom em nossos relacionamentos; afastamo-nos demais do que é útil procurando, ainda que sem noção clara onde o estamos a ocupar, passá-lo nem sempre da melhor maneira possível; o que é o melhor possível? Sei que o Agora é este momento que considero único e que estou a oferecer-te um pouco do que me pertence; também pensava dizer-te isto pessoalmente; uma partilha deve ser o comungar não só com ideias ou acções, mas com oferta do tempo que nos pertence; sem sermos senhores do mesmo sem possibilidades de alterar o percurso que nos foi traçado, mas de qualquer modo dizemos que oferecemos um pouco do nosso tempo. Há um tempo para tudo? Deve haver um tempo para tudo? Também não sei bem o significado exacto; também não tenho resposta para te dar. Sei. Isso sim. Que depois de uma juventude em que o conceito do mesmo, por vezes não é bem claro, esta troca de ideias vai a pouco e pouco, fazendo Luz devido à energia positiva que empregámos em nossos diálogos, devido à verdade que pomos em tudo o que, juntos planeamos e executamos. Quero dizer-te que vou esforçar-me para fazer deste pouco tempo que me resta, que nem sei qual a sua medida nem esta preocupação sequer existe dentro de mim, um passeio pelo que já fiz, pelo que estou a fazer e delinear uns quantos projectos para, se houver o tal tempo que penso pertencer-me, os executar na medida em que as forças me acompanhem para tal. Saberás sempre na medida do possível o ponto exacto onde me encontro.
Eu sou Presença, perante Deus, que habita o meu corpo.

Carta a um Amigo 4

Hoje vou revelar-te alguns passos que ainda não tinha contado. Isto é. Não se pode ou deve submeter o que nos pertence, a juiz, que por não estar devidamente preparado para nos avaliar, nos dê errada imagem do que havíamos declarado. Por outro lado, não é de todo prudente confiar em quem não tenhamos a nossa confiança. Ainda que por vezes, bastas vezes, se manifestem os sorrisos que nos querem dar a impressão de solidariedade amiga, este sorrir não é de todo um sinal de compreensão e ajuda no que de tal estaremos a precisar; também, não será o irmos por caminhos que sendo os mais difíceis aí, não chegaremos mais depressa à resolução dos problemas que, havendo-os criado, terão sua resolução no mesmo quadro de dificuldades. De acordo! Claro, também não é apresentando o que nos pertence do mais íntimo e profundo do nosso Ser, que esqueceríamos o que foi feito mediante aquela caminhada; também não é divulgando que se esquece o pretérito, ou se risca da memória o que jamais pode ser apagado. Pois a tal esponja, não limpa o que existe para recordar, ela é somente uma sombra residual que está para lá da nossa mente; não existe; ou melhor; serão criadas por outros, que não querendo ser olhados com e pelo que fazem, para se sentirem, erradamente, na vertical, tentam usar o esquecimento voluntário, se houvera tal predicado ele seria uma fonte de riqueza para os dias de hoje. Mas, como só ao Divino pertence o que há dentro de nós, que foge ao mundo material, por isso ainda não foram, e jamais serão criadas as condições, dentro do quadro natural da criação humana, aquelas que disponibilizem conhecimento ou acções para controlar o espaço infinito do nosso cérebro onde está instalada a parte que orienta o nosso conhecimento, o fixe ou o dilua por vontade própria o seu conteúdo. Ainda, por outro lado, há uma tendência, como Tu sabes, para que a degradação de tudo o que é humano, se vá tornando dia-a-dia mais patogénico, mais visível nos seus efeitos nefastos ao olhar de quem atentamente se interessa pelo mundo que o rodeia, se preocupa na defesa de valores e, uma vez desprezados, dificilmente recuperarão sua forma e vida primitivas.
É verdade que uma revelação igual à que tenho para contar-te, não se enquadra naqueles contos, do “Abafa”, ou o da “Consoada”, pois eles serão sempre vivências de um tempo que não existiu a não ser na criação do Autor, e a terem existido, foram sempre mais do instinto irracional que, da natureza Humana. Também é verdade ao dizemos muitas vezes que o limite é o céu! Será verdade? O infinito aplicado nesta expressão tem o seu fundo de verdade? Também não sei. O meu pouco saber não me permite ir muito além do que aos Homens, naturalmente, lhes é concedido no reino dos saberes.
Dar-te-ei a resposta em uma das minhas próximas missivas; continuo à esperando novas Tuas.
Vive, aprecie, saboreia e medita em cada acto da tua vida; pode ser o último.