quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O despertar de uma nova consciência

Olá Juventude.
Não é meu propósito dar lições seja do que for, porque nem aluno me considero, mas bastante aprendiz do que vou lendo; é meu propósito, sim, dar a conhecer porque encontro na leitura que faço, motivos fortes para partilhar com todos Vós; e como partilhar é mesmo o que gosto de fazer; quando há nessa partilha algo de positivo, Humano, e acima de tudo uma luta para ir ao encontro do Supremo que habita em nós. E tudo o que é, é Divino

A maior parte das religiões e tradições espirituais antigas partilham o mesmo princípio, ou seja, que o nosso estado de espírito «normal» é manchado por um defeito fundamental. No entanto, deste princípio da natureza da condição humana – ao qual podemos chamar a má notícia – deriva um segundo princípio: a boa notícia da possibilidade de uma transformação radical da consciência humana. Na doutrina hindu (e, por vezes, também na doutrina budista), designa-se esta transformação por iluminação. Na doutrina de Jesus, corresponde à salvação e, no Budismo, constitui o fim do sofrimento. Libertação e despertar são outros termos igualmente utilizados para descrever esta transformação.

O maior feito realizado pela Humanidade não está relacionado com o que ela conseguiu atingir na arte, na ciência ou na tecnologia, mas com o reconhecimento da sua própria disfunção, da sua própria loucura. Num passado remoto, este reconhecimento foi efectuado por alguns indivíduos. Um indivíduo chamado Siddhartha Gautama, que viveu há 2600 anos na Índia, foi talvez o primeiro a vê-lo com toda a clareza. Mais tarde, foi-lhe conferido o título de Buda. À letra, Buda significa «o desperto». Sensivelmente na mesma altura, surgiu na China outro dos primeiros mestres iluminados. Chamava-se Lao-Tsé. Lao-Tsé deixou registo dos seus ensinamentos num dos livros espirituais mais profundos alguma vez escritos: o Tao Te King.

Reconhecermos a nossa própria insanidade é, obviamente, o primeiro passo a dar para alcançar a sanidade mental, o início do processo de cura e transcendência. Uma nova dimensão de consciência começou então a emergir no planeta, uma primeira tentativa de florescimento. Estes indivíduos extraordinários falaram com os seus contemporâneos. Falaram do pecado, do sofrimento, da ilusão. Disseram: «Observa o modo como vives. Olha para o que estás a fazer, para o sofrimento que crias.» Então, apontaram para a possibilidade de um despertar do pesadelo colectivo da existência humana «normal». Indicaram o caminho.

O mundo ainda não estava preparado para compreender as suas palavras e, no entanto, eles tiveram um papel vital e necessário no despertar da Humanidade. Inevitavelmente, fora quase sempre mal interpretados pelos seus contemporâneos, bem como pelas gerações seguintes. Os seus ensinamentos, apesar de simples e poderosos, foram distorcidos e mal interpretados, em alguns casos, inclusivamente no momento em que eram registados por escrito pelos seus discípulos. Ao longo dos séculos, foram acrescentadas muitas coisas que nada têm a ver com os ensinamentos originais, equivalendo a reflexos de uma má interpretação de raiz. Alguns dos mestres foram ridicularizados, insultados ou mortos; outros passaram a ser venerados como deuses. Os ensinamentos que apontavam o caminho para lá da disfunção da mente humana e que permitiriam sair desta loucura colectiva foram distorcidos e tornaram-se eles próprios parte integrante da loucura.

Foi deste modo que as religiões se tornaram, em grande medida, forças de divisão em vez de forças de união. Em lugar de eliminarem a violência e o ódio através da percepção da unicidade fundamental de toda a vida, deram origem a mais violência e mais ódio, a mais divisões entre as pessoas, bem como entre diferentes religiões e até dentro da mesma religião. Converteram-se em ideologias, sistemas de crenças com os quais as pessoas se podiam identificar e que, por isso, podiam usar para reforçar a sua falsa noção de identidade. As religiões concediam às pessoas o pretexto para se sentirem «certas» em oposição aos outros, que estavam «errados», e, por conseguinte, ajudavam-nas a definir a sua identidade com base nos seus inimigos, os «outros», os «descrentes» ou «mal-crentes», encontrando com frequência justificação para os matar. O Homem criou «Deus» à sua imagem. O eterno, o infinito e o inominável foram reduzidos a um ídolo mental, no qual se tinha de acreditar e o qual se tinha de venerar como o «meu deus» ou o «nosso deus».

No entanto... no entanto... apesar de todos os actos de loucura cometidos em nome da religião, a Verdade para a qual apontam ainda brilha no seu âmago. Continua a brilhar, por mais ténue que seja o brilho, por baixo das várias camadas de distorção ou má interpretação. Porém, é pouco provável que sejamos capazes de percepcionar esse brilho se nunca tivermos tido pelo menos vislumbres dessa Verdade dentro de nós mesmos. Ao longo da História, houve sempre raros indivíduos que viveram uma mudança de consciência e que, desta forma, se aperceberam dentro de si próprios d’Aquilo para que todas as religiões apontam. Para descrever essa Verdade não-conceptual, utilizaram então a estrutura conceptual das respectivas religiões.

Por intermédio de alguns destes homens e mulheres, no seio das principais religiões desenvolveram-se escolas ou movimentos que representavam não só uma redescoberta, mas também, em alguns casos, uma intensificação da luz da doutrina original. Deste modo, nasceram no seio do Cristianismo inicial e medieval o gnosticismo e o misticismo, o sufismo na religião islâmica, o chassidismo e a cabala no Judaísmo, o advaita vedanta no Hinduísmo e o zen e o dzogchen no Budismo. A maior parte destas escolas era iconoclasta. Estas escolas fizeram desaparecer camadas e camadas de estruturas de conceptualização morta e sistemas mentais de crenças, o que fez com que a grande maioria fosse vista com desconfiança, e muitas vezes até com hostilidade, por parte das hierarquias religiosas oficiais. Ao contrário da religião dominante, os seus ensinamentos acentuavam a compreensão e a transformação interior. Foi através destas escolas ou movimentos esotéricos que as principais religiões recuperaram o poder transformador dos ensinamentos originais, embora, na maior parte dos casos, apenas uma pequena minoria de pessoas pudesse ter acesso a eles. Este número de pessoas nunca foi suficientemente grande para causar um impacto significativo na inconsciência colectiva profundamente enraizada na maioria das pessoas. Com o tempo, até algumas destas escolas se tornaram demasiado rígidas ou conceptualizadas para surtirem efeito.

ECKHART TOLLE

UM MUNDO NOVO - Despertar para a Essência da Vida.

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